quinta-feira, 26 de julho de 2012

Experiência de quase morte


Quando fiquei grávida pela primeira vez, eu tinha apenas 22 anos.Era solteira,ingênua,imatura...Eu nem sabia como faria para cuidar de um bebê sozinha,mas tive a coragem que toda a mãe de verdade tem,ao perceber que existe uma vida dentro do seu ventre.Lutei contra tudo e todos para permanecer grávida.Digamos que a morte do meu bebê naquele momento poderia poupar a vida do meu pai.Fui torturada sim,até sangrar,literalmente...Não vem ao caso agora dizer quem foi meu carrasco.
Bom...Fugi,me escondi,tive vontade de me encolher e virar um feto junto com meu feto.Tive um anjo em minha vida naquele momento difícil,um anjo em forma de irmã,Lidia Mara Ferreira Gonçalves é o nome dela.Foi ela que me apoiou,me deu abrigo,me deu ânimo para continuar,me trouxe palavras de conforto...Recebi também o apoio da minha cunhada Rocio Rodi,através de cartas lindas,com palavras suaves e animadoras.E foi com toda essa força que deixei meu filho vir ao mundo sem interrupções.Minha gravidez foi tranquila,após a tempestade passar,tive ajuda até daquele que no início poderia "morrer",com a notícia,mas que depois foi o tutor daquele que poderia nem ter nascido para poupar sua "vida".Meu pai,um homem bom,justo,que jamais  deixaria de ajudar quem quer que seja.
A minha experiência de quase morte,foi exatamente no nascimento do meu filho Renan Augusto.Tive um parto complicado,horas de dor e sofrimento, inexperiência das enfermeiras,grosserias,xingamentos...Muita ignorância recebi naquele hospital por parte de alguns funcionários.Depois de tanto sofrimento,num parto "normal",que provavelmente deveria ter sido cesária, finalmente veio ao mundo meu primeiro filho.Eu nem pude vê-lo,mal escutei seu choro,tive uma hemorragia logo depois do nascimento.Escutei apenas o médico dizendo "Meu Deus esse sangue que não quer parar de espirrar"...Depois entrei num outro mundo,escutava vozes,senti meu corpo leve e deitada na maca,percebi que corriam apressadamente para me levar na UTI.Minha irmã a Miriam Ferreira Gonçalves,que também foi outro anjo em minha vida,estava comigo,tiraram meus brincos,colar e entregaram a ela...Foi quase uma despedida.Depois soube por relatos contados por ela,que eu estava tão pálida quanto ao lençol,e que ao despedir-se de mim,ela pegou em meus braços gelados e disse "tchau",com muita tristeza...
No quarto da UTI,eu escutava vozes em volta da minha cama,e avistava todos da minha família ali pertinho,olhando e falando baixinho para mim,como se eu estivesse dentro de um caixão,sendo velada.Eu pensava,meu Deus,até meus irmãos que moram longe estão aqui,eu devo estar morta.O olhar do meu pai era tão desesperador,os meus irmãos estavam tensos...Mas quando eu voltei ao meu estado normal,perguntei se algum deles estiveram em meu quarto na UTI,fiquei sabendo depois que ninguém esteve lá,apenas os enfermeiros eram permitidos entrar.A sensação de estar vendo todos e ouvindo os seus sussurros, era tão real...Eu tive sim uma experiência de quase morte,nunca contei publicamente essa história, mas agora eu senti que devia deixar por escrito.Talvez ajude algum dia, alguém, de uma certa forma...
E assim nasceu ele, tranquilo e sem traumas.


RENAN AUGUSTO COLINI GONÇALVES

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Minha culpa

A pior coisa que uma pessoa pode ter em sua vida,é um sentimento de culpa cravado em sua alma.Isso nada e nem ninguém poderá tirar.O nó na garganta existirá sempre lá,a dor de fazer alguém sofrer, estará sempre lá, juntinho com cada passo da sua caminhada.
Como é difícil saber que alguém sofre por sua culpa...Deus sabe o quanto sofro por isso!
Joguei uma vida no lixo,alimentei apenas os meus desejos,esqueci do resto.Devo viver com essa dor em meu peito para sempre.
Sou humana eu sei,errei como qualquer ser humano erra,meu castigo agora eu mesma estou me dando,com esse sentimento destruidor dentro de mim.
Quase cometi uma loucura...Mas graças a Deus tenho filhos que me amam,e por eles eu continuo aqui firme.
Um dia quando toda essa tormenta passar,mesmo que dentro de mim isso nunca irá morrer,estarei pronta para saber e aceitar qual será o meu destino.Seja ele de sofrimento ou não.Deus sabe o que eu mereço de fato.
Pensei que ser feliz era apenas fazer os outros felizes,por isso fiquei por 17 anos lutando contra um sentimento dentro de mim,que me fazia sentir menos mulher e mais mãezona,dona de casa,apenas preocupada com as coisas relacionadas ao lar.Esquecia de mim,não era vaidosa,não cuidava de mim,e nem gostava de sair de casa.Nunca queria receber visitas,odiava essa idéia.Mas após meus 40 anos,comecei a me enxergar como mulher,percebi que ali existia um corpo que necessitava viver.Comecei a me cuidar e me dar mais valor,me senti mulher e transmiti isso aos outros.Sim,quando nos sentimos felizes,isso transparece para quem está perto,e vc chama a atenção.Foi o que aconteceu.Nem preciso dizer mais nada.
Agora percebo que todos eram felizes quando eu não era.E agora redimir essa culpa,requer fazer tudo de novo,apagar essa nova Enise,e regredir ao passado...Esquecer de mim,para viver para os outros.
Viverei com esse dilema em minha vida,até que o meu tempo se acabe,e que de mim não reste mais esse brilho,apenas um olhar fosco e triste,destruído pela culpa...